terça-feira, 5 de abril de 2011

2º cap Despedidas


Era sábado. E ela adorava aqueles dias, pois era um dos dias mais animados da semana...
Aula de canto, encontro com os amigos, jogo de bola no pátio da Igreja...
Acordou toda animada e foi ajudar sua mãe.
- Bom dia!! – falou sentando a mesa e pegando um pão.
- Ora, vejam só quem ta toda animada hoje?! Espero que continue assim pra arrumar a casa comigo. – Júlia olhou a mãe com vontade de perguntar se hoje seus irmãos iriam ajudar nas  tarefas, mas com medo do revés, calou-se e foi lavar os pratos.
Eram pobres, uma família vinda do interior do estado que por não ter dinheiro suficiente, teve de morar na favela, numa casa muito simples que seu pai construíra... Seus pais eram trabalhadores, mas não tinham estudo e, portanto faltava trabalho.
A igreja ajudava com doações e alguns serviços, mas nada era fácil no Brasil.
Faltava: leite, trigo, carne... a comida era racionada. O pão do café era contado e os preços subiam todos os dias... sua mãe tomava conta da casa e cortava cabelo da vizinhança. Sabia ler e tinha  freqüentado a escola até a 6ª série, então dava aulas de reforço em casa  pra criançada da vizinhança. Tudo pra ter um trocado a mais...
Mas, o que revoltava Júlia, era que só ela fazia as tarefas domésticas. Seus irmãos podiam brincar a vontade, nem a cama forravam!
Júlia começou a lavar os pratos do café e ficou olhando a mãe que catava o feijão...
Era uma mulher simples, com cabelos negros, nariz afilado  e a pele levemente bronzeada...
Ficou imaginando a mãe com 13 anos ... “Ela deve ter sido muito bonita! Ela é muito bonita!”
- Julia, menina! Olha a torneira ligada! Lava esses pratos logo!! – o chamado da mãe a despertou de seus sonhos.
“A quem eu puxei!” continuou lavando os pratos e lembrando dos apelidos que lhe davam na escola e na igreja: baixinha, branquela, cabeçuda, cabelo de fofão...
Teve vontade de chorar, mas continuou lavando os pratos...
Hoje é sábado! Vou me divertir a beça na aula de canto e vou ver, ai ai, Tácio e Danilo...
Enfim terminara os serviços domésticos...
“Acho que terminei tudo!”, lavara prato e roupa, ajudara no almoço, varrera e espanara toda casa, passou pano e limpou os móveis... Bem, pelo menos por um tempo tava tudo arrumado...
“ Quer dizer, por enquanto...” porque seus dois irmãos fariam o favor de bagunçar e não arrumar nada, urfa!
Olhou o relógio e viu que estava atrasada pra aula de canto. Atrasada e cansada... Andaria uns 15 minutos saindo da favela em direção ao centro da cidade, onde a Igreja ficava. Correu logo pro banho e partiu rumo ao seu destino...
A Professora de canto era uma das pessoas que mais amava. Ela era gentil e paciente com todos e  a cativara com o interesse que demonstrava por cada aluno.No Coro participavam  crianças da Igreja, que moravam na favela ou em bairros  mais ricos e  Lívia tratava a todos da mesma forma, sem distinção. Ali Júlia sentia-se exatamente igual as outras meninas...
Assim que chegou a igreja viu Tácio sentado no pátio onde jogavam bola. Seu coração disparou e quase parou de andar, porém percebeu que ele estava chorando...
Criando coragem chegou perto e fez o que fazia com seus irmãos nessas horas, ficou sentada junto dele... o coração acelerado, as mãos molhadas, mas ficou ali em silêncio , até que ele percebeu sua presença...
- Júlia!!- vez gesto pra levantar e esconder o rosto, mas desistiu de imediato- Não conte ao meu pai que to chorando, por favor, senão ele me bate. Sabe homem não chora!- e passou a mão enxugando as lágrimas com força...
- Sabe Tácio, tenho dois irmãos e eles choram...- falou com coragem, pois sabia que isso era preconceito, já ouvira aquilo e sabia que todos choram, até seu pai chorava quando chegava em casa sem ter nenhum trabalho e dinheiro... – só que não fazem na frente de todo mundo. – respirou fundo e perguntou:
- O que houve?- então aquele garoto um pouco mais velho que Júlia, que andava bem vestido, sempre tinha todos os brinquedos, disse algo que acabou com o dia e a felicidade de Júlia...
- Lívia vai embora... a Cantata do  Dilúvio vai ser a última apresentação de nosso coro...
- Não pode ser!!- e começou a chorar também.


2 comentários:

  1. [i]
    gostei deste cap ;)
    despedidas, heim? é sempre doloroso mesmo!!
    abç!

    ResponderExcluir
  2. Toda história ou quase todas têm suas despedidas. Mas também podem haver reencontros.

    ResponderExcluir

Oi! Agora que você teve paciência de ler tudinho, peço que pare um instante e deixe sua opinião. Abraços!